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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Discussão: Plágio em publicações científicas

Dando continuidade às nossas discussões científicas, hoje a postagem trata de um tema realmente polêmico e controverso: Plágio.

Embora não seja um tema novo, o resumo trata de alguns pontos específicos da ocorrência do mesmo que acabam sendo interessantes para formação de senso crítico a respeito.

Façam bom proveito da leitura e fiquem a vontade para comentar!

Universidade Federal de Viçosa
Departamento de Informática
Mestrado em Ciência da Computação
INF 600 - Técnicas de Pesquisa em Ciência da Computação
Resumo nº. 03

Os artigos estudados referem-se à ocorrência de plágio. Embora essa prática possa ocorrer em qualquer espécie de obra que envolva direitos autorais, os artigos referem-se mais especificamente a ocorrência dessa prática em publicações científicas.

De maneira geral, plágio significa tomar posse de uma criação da qual os direitos autorais pertencem à outra pessoa e passar-se como criador da mesma. O plágio em publicações científicas pode se manifestar de várias formas, como a cópia integral ou parcial de uma obra e cópia de elementos de uma obra sem citar os devidos autores originais. Alguns autores também cometem plágio mesmo citando as fontes originais, pois acabam não deixando claro o que é de sua autoria e o que está sendo referenciado, podendo acabar assim se passando como autor de algo que ele não fez de fato.

O ato de plagiar uma obra fere conceitos legais e éticos do meio científico, porém a partir da leitura dos artigos, é possível perceber que a prática do auto-plágio no meio acadêmico é um tanto quanto comum. O auto-plágio nada mais é do que aproveitar trabalhos anteriores integralmente ou parcialmente, e republicá-los sem fazer citação, fazendo assim os mesmos se passarem por trabalhos inéditos. Muitos problemas podem ser gerados a partir dessa prática, como por exemplo, visões distorcidas da sociedade em relação à forma como o capital investido em pesquisa é aplicado e desconforto no meio acadêmico por profissionais que não republicam seus trabalhos serem menos valorizados que outros que teoricamente produzem mais, porém estão repetindo publicações.

As vezes é um pouco confuso pensar que um pesquisador não tem o direito de reaproveitar seus próprios trabalhos para de repente enriquecerem o contexto de trabalhos futuros, porém, muitas revistas tornam-se detentoras dos direitos autorais de um trabalho quando o mesmo é publicado por ela. Nesse sentido, o reaproveitamento descontrolado de um trabalho, mesmo que tenha sido feito pelo próprio autor, acaba gerando um problema legal, pois o mesmo não é mais dono dos seus direitos.

O reaproveitamento de trabalhos anteriores em publicações futuras é permitido e pode inclusive ser uma prática saudável para contextualizar os novos trabalhos, porém qual é o limite de reaproveitamento? Não existe uma norma geral para isso. Nos próprios artigos estudados vimos medidas diferentes para o nível permitido de reaproveitamento, segundo [2], pelo menos 25% da publicação deve ser inédita para não configurar plágio. Já segundo [3], usualmente é utilizada a “regra dos 30%”, onde é permitido um reuso de até 30% de uma publicação anterior.

É muito complicado estabelecer e mensurar tais valores, afinal de contas isso tudo acaba sendo um fator muito pessoal, sendo que determinados avaliadores podem achar que um trabalho está plagiando outro, enquanto outros avaliadores mais maleáveis enxergam por outra ótica.

Outro fator que acaba facilitando a ocorrência de plágio é a falta de punições severas. Dentre as possíveis punições que vimos nos artigos, a maioria são punições brandas, como por exemplo, cartas de retratação admitindo o erro cometido.

Não há problema em reutilizar trechos de trabalhos anteriores que sejam relevantes a trabalhos futuros, porém o que fica ruim são os abusos cometidos por alguns autores para ganharem volume de publicação. É de certo ponto até desagradável ler artigos diferentes de um mesmo autor tendo a sensação de que aquilo já foi lido anteriormente. Dentre os artigos estudados no Resumo 2, podemos exemplificar essa sensação com algumas publicações do Victor Basili. Em todos os seus artigos estudados, curiosamente o autor que ele mais cita é ele próprio e muitas das coisas que ele escreveu nesses artigos são claramente idênticas a de outros artigos de sua autoria, como é o caso dos artigos [5] e [6], onde trechos consideráveis dos mesmos são idênticos, sem ao menos mudar uma palavra e não existe citação de [6] para [5].

Quando a reutilização é considerada legal e ética, a mesma não traz problemas a ninguém, porém quando ela é considerada ilegal e/ou antiética, passa a ser tratada como plágio. Mesmo no meio acadêmico, as opiniões a respeito do que é ético e o que não é variam muito, como ficou claro em [2], portanto fica muito complicado fazer esse tipo de classificação. Essa falta de padronização de critérios e punições acaba dando abertura para a ocorrência de plágios e ao menos que seja dada uma maior atenção a esses pontos, essa prática continuará acontecendo tanto no meio acadêmico, quanto no meio de desenvolvimento de software e demais meios.

Referências

[1] ACM policy and procedures on plagiarism, October 2005.

[2] Collberg, C. and Kobourov, S. 2005. Self-plagiarism in computer science. Commun. ACM 48, 4 (Apr. 2005), 88-94. DOI= http://doi.acm.org/10.1145/1053291.1053293

[3] Samuelson, P. 1994. Self-plagiarism or fair use. Commun. ACM 37, 8 (Aug. 1994), 21-25. DOI= http://doi.acm.org/10.1145/179606.179731

[4] Siponen, M. T. and Vartiainen, T. 2007. Unauthorized copying of software: an empirical study of reasons for and against. SIGCAS Comput. Soc. 37, 1 (Jun. 2007), 30-43. DOI= http://doi.acm.org/10.1145/1273353.1273357

[5] Basili, V. R. “The Experimental Paradigm in Software Engineering”. In H. D. Rombach, V. Basili, R. Selby, editors, Experimental Software Engineering Issues: Critical Assessment and Future Directions, Lecture Notes in Computer Science #706, Springer-Verlag, August 1993

[6] Basili, V. R. The Role of Experimentation in Software Engineering: Past, Current, and Future, Proceedings of the 18th International Conference on Software Engineering, Berlin, Germany, March 25-29, pp. 442-449, 1996.

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